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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Blog do Pai Maneco: CARTA ABERTA AO SEO ZÉ



Blog do Pai Maneco: CARTA ABERTA AO SEO ZÉ

Transcrição do original publicado em 09 de abril de 2010 no Blog do Pai Maneco:

"Saravá meu nego amado, querido amigo e protetor,

Sabido é que ando lhe devendo lá umas oferendas e uns agradecimentos. Mas aí me pergunto, meu pai, quem de nós não está? Sei que meu nego não se faz de rogado pela pequena demora não. Não o senhor, grande entendedor do mundo de antes e de agora. Entende das ervas, da costura, da dor dos escravos, da beleza da miscigenação das raças, da dificuldade dos homens nas cidades pequenas e grandes. E que entende também dos meus esquecimentos despropositados! 

Então, apesar do atraso dos meus agrados, não tenho vergonha de ainda lhe fazer mais um grande pedido. O senhor, conhecedor das dificuldades da civilização de hoje, podia muito bem nos dar mais uma força bruta nesse momento tão incauto. Não podia?

É, meu pai, por aqui a coisa anda feia. Muito feia. É terremoto pro lado, ventania pra baixo, uma tal de gripe suína voltando pra cima e um alagado do tamanho da vista aqui, pro nosso lado. Agora pra andar no Rio precisa até de pedalinho – o senhor não vê?

“- Uma ajudinha, pelamor, o senhor não manda não, doutor?
- O branco estraga e nego tem que trabalhar?
- É sim, senhor.”

Pois falta ainda muito pra gente aprender, meu pai. Reforça, aqui, então, essa lida da educação dos filhos. Ensina a gente a viver de novo, a amar, respeitar o próximo e a cuidar do planeta em que vive. A ter alegria na alegria do outro, a ter felicidade na felicidade de alguém. Ajuda a tirar as vistas da ganância e a colocar os olhos de ver com amor a obra de Zambi.

Vem e traz, nego querido, essa sua imensa falange, essa família de homens e mulheres de luta. E com eles traz a gente de volta pro trilho, traz a gente pro caminho certo – que de errado a gente já foi bem longe e fez até desvio. Mostra o retorno, meu pai. O senhor e toda essa família de Zés que é quase infinita em tamanho – e eterna em fundamento.

Ajuda a gente a enxergar e entender o que é honestidade e o que é malandragem. Vem mostrar de novo o que é o jeitinho brasileiro – que não engana, não mente, mas que é versátil em toda sua destreza e maestria. Porque malandragem é fazer o difícil com um sorriso na boca, como o senhor mesmo já ensinou.

Chega aqui, ajuda a virar essa mesa cheia de corrupção, violência e estupidez. Bora botar ordem na cozinha! Jogar fora esse rango insosso, botar a nossa feijuca no fogo, preparar o pandeiro do samba bom. Traz essa força e a sabedoria, meu pai, pra gente colocar fora tudo que não presta nessa vida. Desde o falso amigo até o político corrupto, o policial cruel. 

Que é pra tentar evitar, meu pai, que mais se matem ou morram assim, com tiro no peito, em deslizamento, num infarto de estresse, numa depressão ou overdose qualquer.

Vem mais perto pra tirar seu povo dessa condição de menor abandonado, desse sentimento de rejeição.

Eu sei que é pedir demais, mas abre esse seu sorriso e seus braços um pouquinho mais, meu pai! Porque a gente é criança e precisa, sim, de luz no caminho - e de um bom colo, pra deitar e sonhar um futuro melhor pra nossa gente.

Com todo o carinho e respeito do mundo.
Sua fia branquela, 

Caroline Lipca"
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Fonte: web:http://paimaneco.blogspot.com/2010/04/carta-aberta-ao-seu-ze.html


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